sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Transposição e hibridização de sistemas culturais pagãos em religiosidades contemporâneas: o caso dos wiccans

Mesclado às várias crenças religiosas brasileiras, o paganismo – seja politeísta, naturalista ou animista - tem ganhado espaço e novos adeptos, confrontando uma realidade majoritariamente cristã e monoteísta. Pelo viés histórico-antropológico, é perceptível que essas culturas pagãs são “resgatadas” de hierofanias já decadentes ou extintas, transpondo elementos desses sistemas de crenças, práticas e valores à contemporaneidade. Esse processo de apropriação engendra novas crenças, práticas e valores, mediante a ressignificação e a recepção ativa de sistemas já declinados, criando-se dessa forma novos sistemas religiosos. Historicamente, esse processo poderia ser considerado de certa forma anacrônico, pois se extraem de uma cultura traços, símbolos e mitos, os quais, transportados para uma cultura temporal e espacialmente diferente, permitem a criação ou invenção de correspondências entre a cultura doadora e a receptora. Entretanto, culturalmente e antropologicamente, a partir do momento em que esses traços são aceitos e incorporados em uma nova cultura, estes passam a fazer parte integrante dela, portanto, passam a ser pertencentes àquele novo sistema religioso.

Esse processo cultural pode ser percebido, hoje, pelos praticantes da bruxaria moderna, denominada de Wicca. Essa crença aceita uma grande quantidade distinta de panteões de deuses e deusas de antigas crenças extintas, principalmente celtas. Os praticantes dessa religiosidade afirmam ser esta umaprática pré-cristã, por isso a denominam de “Antiga Religião”. Historicamente, sabemos ser impossível que estas crenças antigas e cultos camponeses relacionados principalmente à colheita, tenham se mantidos intactos após a Inquisição; portando, o que é hoje chamado wicca é uma reinterpretação dos vestígios de cultos antigos, já mesclados e com  influências cristãs e modificados pelo processo inquisitorial, o que não torna esta uma prática irrelevante para percebermos traços de nossa cultura atual.

Com um método focado na história oral, na história das religiões e das religiões comparadas, buscamos entender esses pequenos traços culturais atuais/atualizados, mediante os quais seus adeptos buscam no passado respostas para o presente, em uma espécie (em uma escala menor, é claro) de renascimento politeísta, questionando assim o sistema evolucionista “darwiniano” animismo-politeísmo-monoteísmo, reintroduzindo no campo religioso crenças já extintas e muitas vezes consideradas primitivas.Outro aspecto importante da pesquisa diz respeito aos veículos que permitem essa transposição, os meios pelos quais se tornam públicos os conhecimentos desses cultos antigos e como estes legitimam e naturalizam essas extintas hierofanias em novos sistemas culturais-religiosos que passam a novamente a serem aceitos e suprir necessidades religiosas atuais de um segmento crescente de pessoas. Como essas antigas crenças têm penetrado e incorporado nosso sistema cultural? Como opera esse modo de recepção? E porque elas têm ganhado tanto espaço na sociedade contemporânea? Tais são as questões que movem esta pesquisa histórico-antropológica. 

Trabalho completo disponível pelo link:



Nenhum comentário:

Postar um comentário